sábado, 18 de abril de 2009

Amazônia, a comunicação e o futuro compartilhado


Por Paulo Nassar, publicado no Terra Magazine

A ética e a responsabilidade social são compatíveis com a expansão dos negócios e o desenvolvimento da economia. É o que têm demonstrado, nos últimos anos, tanto o exemplo de empresas, que investem no desenvolvimento sustentável, cada vez em maior número, como também de produtos financeiros a exemplo dos chamados fundos sociais.

São sementes lançadas nos anos 1970, nos Estados Unidos, com duplo objetivo: em parte, a busca do natural atrativo dos investimentos e, em parte, a determinação de investir em setores considerados politicamente corretos. No Brasil, é um fenômeno recente, tendo seu marco histórico no início deste século, mas que ganha força. Prova disso, é a nascente aliança entre o capital industrial e o capital financeiro para abraçar projetos ecologicamente corretos.

É o que internacionalmente tem se chamado de economia social e solidária. Ela se encaixa à perfeição ao grande debate que hoje ganha corpo no país naquilo que se relaciona, por exemplo, ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. Por quê? Esse tipo de postura ainda é quase uma gota de água no oceano, se analisado em âmbito mundial. Na Amazônia, essa gota de água é muito menor, mas não deixa de ser, em hipótese alguma, uma esperança de forte potencial transformador.

Social e solidário

Como desdobramento, Comunicação e o Jornalismo tornam-se de rara utilidade prática para construir um processo transformador. É o que se pode chamar de um tema de atualidade total. O jornalismo e comunicação são partes de uma mesma cadeia de vasos comunicantes: o jornalismo informa, a comunicação contribui para que a informação se transforme em consciência, em educação que transforma e faz evoluir a realidade.

O tema da relação do homem com a natureza é tão antigo quando a discussão da relação homem-homem. No centro, encontram-se o uso racional da ciência, o uso racional da técnica, a geração de riqueza e bem estar. Se olharmos para trás, a verdade é que a natureza sempre foi vista mais como inimiga do que como aliada.

O homem, além de administrá-la, buscou submetê-la e controlá-la. O próprio evangelho cristão não considerava animais e plantas como dignos do mesmo valor que se dá à vida humana. Os tempos eram outros. A vida do planeta não estava ameaçada. A relação homem-homem, fonte inspiradora de revoluções e continuados conflitos sociais, esta sim, era o motor da história. A realidade atual ampliou a perspectiva. As duas relações homem-natureza e homem-homem ocupam o centro das atenções. Motivos: a relação homem-natureza caminha para a predação, enquanto a relação homem-homem trilhou o rumo da crescente exclusão.

Nesse contexto, jornalismo-comunicação tornam-se os novos motores de uma nova história. São o epicentro de uma grande cruzada educadora que irá criar uma nova cultura industrial e das relações de produção. Uma nova cultura onde o ponto forte é a inclusão social, não mais a exclusão. Não serão, é bom que se ressalte, os jornalistas-comunicadores os construtores da história, mas os educadores, os novos apóstolos desses tempos de mudança que começa a escrever a história do futuro.

Cabe a eles aproximar instituições, privadas e pública, que abraçam a economia social e solidária. Cabe a eles realçar o que existe de positivo sendo feito e, assim, consolidar novos paradigmas. Sim, uma revolução pacífica, mas do tipo coperniana. O verdadeiro problema é a crise de um modelo produtivo e de consumo que se encontra fora do lugar.

Força unificadora

Especificamente na Amazônia, esta crise ganha os traços firmes de um modelo que se perdeu, ainda nos idos dos barões da borracha, no labirinto uma visão pré-coperniana do mundo. Ou seja, uma visão onde a Amazônia era um universo isolado, independente por sua própria natureza e vocação.

O desafio do comunicador é mostrar que a Amazônia e o Brasil são um só. Que o destino da Amazônia e do Brasil são indissociáveis. Além de um patrimônio efetivo, a Amazônia é o grande diferencial competitivo brasileiro pelo caráter vasto e imensurável das suas riquezas naturais. Feito o ajuste do modelo, o caminho estará aberto para um novo ciclo de desenvolvimento sustentado.

A economia social e solidária, combinada com uma política efetiva de fiscalização, fará recuar as atitudes predadoras. Fará com que todos os atores sociais passem a ver, consciente ou inconscientemente, a natureza como uma aliada nas complexas relações homem-natureza, homem-homem. E, por este caminho, é que se encontrará também o fio do labirinto para corrigir as desigualdades econômicas e regionais. Por que não há duvidas: o que distingue os temas atuais é a interdependência.

Somos todos interdependentes. A interdependência, o compartilhamento, é o autêntico construtor desse novo ciclo da história que hoje ganha traços firmes no horizonte. Creio, a imprensa e os comunicadores da Amazônia deveriam sair, na frente, dar o exemplo. Construir rede de diálogo não apenas no Brasil, mas também no exterior.

Como a comunicação é a força unificadora dos tempos modernos e a interdependência os fios que estão a tecê-la, os resultados positivos logo se farão sentir uma vez que a região é um terreno aberto, e apropriado, para o investimento social, o capitalismo social.

FONTE: http://www.forumamazoniasustentavel.org.br/artigo/?id=216

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